Dezembro! É possível sonhar?

01/01/2012 10:42

Brenda Alves de Andrade*

Derek Warwick Tavares da Silva**

 

Dezembro mês especial! Nesse período, muitos sentimentos afloram deixando as pessoas mais sensíveis, despertando um olhar que enxerga além de lindos enfeites e luzes natalinas. Esse olhar consegue desvendar segredos. Segredos esses, que a grande parte da sociedade paraibana sonha em ganhar no Natal. Algo simples para alguns, especificamente àqueles acostumados com mesa farta, por outro lado, difícil para outros. Estamos nos referindo a comida! Não é bem um segredo, afinal os problemas sociais do nosso estado estão visíveis para qualquer um, porém quando transformamos necessidades em sonhos, parece algo difícil de realizar, como se estivesse sempre em segredo porque os anos se passam, e a fome continua.

Falando em sonho e comida, hum... Vocês sabiam que ontem a noite sonhei com um sorvete de chocolate, cheio de flocos crocantes maravilhoso? Olhando por esse lado, até parece fácil de realizar e normal sonhar com comida não é mesmo? Mas o grande sonho da sociedade paraibana é saciar a fome de suas famílias todos os dias, não com um sorvete de chocolate, mas com um quilo de feijão, de arroz, produtos básicos para sobrevivência.

De acordo com uma pesquisa científica realizada sob a orientação da professora Dra. Bernardina Freire, foi possível obter dados concretos a respeito das necessidades básicas de parte da sociedade paraibana. A pesquisa intitulada “Arqueologia do saber: cartas como fonte de informação e memória” trabalha com vinte e três mil cartas (23.000) advindas da Campanha Papai Noel dos correios do ano de 2009, cartas essas que não foram atendidas ou adotadas[1]. Essa campanha tem como principal objetivo “responder às crianças que escrevem ao Papai Noel e atender, sempre que possível, aos pedidos de presentes de Natal das que se encontra em situação de vulnerabilidade social” (CORREIOS, 2011).

Como resultado da pesquisa, a análise feita em 508 cartas verificou-se os principais pedidos: de brinquedos que estavam representados em 178 cartas, de comida em segundo lugar com 110 pedidos, além de roupas com 64 e material escolar com 48 pedidos. Ficou evidente o significativo número de cartas com pedidos de cesta básica. Outro fator também significativo é que esses pedidos foram feitos por crianças.

Levi Strauss afirma que,

 

[...] durante todo o ano, invocamos a visita de Papai Noel, para lembrar às crianças que a generosidade dele será medida pelo bom comportamento delas; e o caráter periódico da distribuição dos presentes tem a utilidade de disciplinar as reivindicações infantis, de reduzir a um período curto o momento em que essas têm verdadeiramente o direito de exigir presentes. (LEVI STRAUSS, 2003, p, 11)

 

Mas o que está acontecendo com as nossas crianças? Difícil imaginar uma criança pedir comida ao invés de brinquedos, é mesmo estranho. Utilizando-se inclusive, da justificativa de bom comportamento e de suas boas notas na escola para merecer alcançar o pedido. No entanto se refletirmos, podemos perceber que essas crianças estão apenas em busca de realizar o sonho de sua família: saciar a fome. Parecendo impossível, além de tomar para si a responsabilidade de outrem. Os relatos e as confissões dos missivistas nessa pesquisa, em forma de correspondência, surpreendem por desnudar a vida em busca de uma esperança de ser socorrido desse mundo de hoje.

Dessa forma, aguce o seu olhar para observar a nossa sociedade o ano inteiro e não apenas por um momento, transforme o que você viu em uma ação que contribua para minimizar o sofrimento de alguém, talvez se cada um fizer a sua parte, podemos acreditar que vale a pena sonhar.

 

Referências

 

CORREIOS. Papai Noel dos Correios. Disponível em:   Acesso em: 20 nov. 2011.

 

LÉVI-STRAUSS, Claude. Papai Noel supliciado. In: Revista Anhembi, n. 16, ano II, vol. VI, São Paulo, 1952.

 

 

* Graduanda do curso de Bacharelado em Biblioteconomia pela UFPB. Bacharel em Turismo. Bolsista PIBIC/UFPB.
** Graduando do curso de Bacharelado em História pela UFPB. Bacharel em Arquivologia. Bolsista PIBIC/UFPB.

 

—————

Voltar